domingo, 31 de janeiro de 2010

Relato de Marilda Maracci
















Peroás e Caramurus - Uma saga da Ilha. Apresentação no calçadão da rua Sete.
Sei que elogios de amigos são suspeitos, mas eu não escreveria nada ou apenas “parabéns pelo espetáculo” se não tivesse gostado muito. Falo como público comum que não tem a dimensão técnica do barato teatral. Como geógrafa que sou, faço meu comentário como um perfil topográfico, num mapeamento por varredura, identificando os picos do relevo (rs!). A peça prende, envolve, descontrai, emociona, entra... e dá pra assistir de qualquer ângulo (rsrsrs!)... Inteligência sem prescindir do inteligível, uma certa sutileza crítica ou um subtexto da peça que se percebe particularmente na interpretação dos atores, em especial nas caras e bocas...rsrs!
Tema territorial (digo território como mais que superfície, como biodiversidade + cultura), o público se reconhece, abordando um conflito que permite a trans-espaço-temporalidade (a colonialidade, inclusive local, e a resistência também local pelo recorte do conflito ritual-religioso, numa “contação” de uma história que atualiza questões atuais (rs!) como a dominação e a intolerância e, no mesmo tempo e lugar desvela estratégias como a aparente conciliação entre as irmandades como forma de resistência identitária (bem, essa é minha interpretação dessa história). Como os povos no chamado Brasil souberam e sabem fazer isso!!! Nisso a música entra com força junto com a batida dos pés na afirmação de que “São Benedito é preto” (momento emocionante esse, de ‘agüinha’ nos olhos e tudo!!! e por todas essas coisas mesmo! Salve Edvan!). Eu “ainda diria mais, mas a canção tem que acabar...” rs!!! Parabéns pelo espetáculo, Nieve, Saulinho, Edvan e atores!!!... e eu, público, agradeço!


(Marilda é doutora em Geografia pela Universidade Federal Fluminense )

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Dá pano pra manga


“O santo sai ou não sai? Convento de São Francisco quer saber. O santo sai ou não sai? A Igreja do Rosário quer saber...”. Provoco as costureiras cantando um trecho de uma canção da peça, devido ao pouco tempo para a execução do figurino. Sim, santo de casa faz milagre, e não por acaso o atelier da Marinez atende por Luz Divina

Naquela calorenta tarde de domingo na Praça Pereira, enquanto observo uma primeira parcial do figurino que está sendo tecido, no corpo dos atores; em movimento, um senhorzinho que assistia ao começo do ensaio perguntou-me: “Não é congada, né?” Respondi: é teatro. Ele sorriu e continuou atento às cenas que se seguiram e eu refletindo como seria possível transgredir a partir da criação artística um código já estabelecido para dar margem a outras leituras daquilo que já se sabe, do cotidiano?

O universo do figurino é recheado de mistério, assim como a vida, a arte e as pessoas. Assim sendo, também me deixo envolver por esse clima, para desenhar na pele do ator uma outra pele, uma camada de expressividade que tenha o poder de comunicar.

Na textura dos tecidos, das rendas, na paleta das cores e seus tons diversos, procuro imprimir um depoimento sobre a história encenada... Os traços dessa composição surgem de uma impressão de um dado real que escapa para o fantástico porque o cotidiano precisa ser visto de outra maneira, o corriqueiro ganha conotação de estranheza e, com uma cara nova revela a beleza que sempre esteve presente, só que agora é vista intencionalmente na cena com toda sua teatralidade.

O figurino poeticamente estilizado com traços de liberdade e imaginação que escapa ao espaço e ao tempo, permite aos atores, utilizá-lo como prolongamento de gestos e ações cênicas; e que ao decorrer do espetáculo será gradualmente reconfigurado conforme a necessidade das cenas. Dessa forma, ele ganha nova vitalidade e outras significações; através do uso que os atores fazem dele em cena. “O efeito de força e energia que o ator é capaz de manifestar é reforçado e elevado pela metamorfose do figurino em si, numa relação recíproca de troca: ator – corpo, ator – figurino, ator no figurino”.

O figurino revela-se como um composto de significados, constitui-se como um sistema de linguagem que tende a oferecer ao espectador a possibilidade de leituras e informações a respeito da personagem e o universo ao qual esta pertence. Protege o ator, dilata sua figura no espaço cênico, revela a personagem, oculta, camufla, podendo também funcionar como adereço e objeto cenográfico.

Pensar o figurino a serviço do ator e da encenação requer uma atitude de buscar compreendê-lo artisticamente. Descobrir seu potencial de significação e transformação na cena. Contribuir para o trabalho de criação do ator e da encenação, dialogando com todos os elementos de composição do espetáculo.

A criação de um figurino é um ato poético.

ANTONIO APOLINARIO.

sábado, 19 de dezembro de 2009

CIRCULAÇÃO



Em virtude da chuva que cai sobre nossa cidade desde ontem, infelizmente tivemos que cancelar as apresentações de “Peroás e Caramurus – Uma saga da Ilha” previstas para o dia 18 e hoje, dia 19.

Ficamos na chuva esperando o santo sair, literalmente. Não fosse a Escola de Teatro e Dança Fafi nos abrigar, como outrora a Igreja do Rosário abrigou os devotos de São Benedito, nem teríamos estreado.

Bem, refizemos o cronograma e a peça poderá ser vista nos seguintes locais/horários:

20/12 –
10h00 - Parque Moscoso – Centro
12h00 – Praça Getúlio Vargas - Centro
14h00 - Parque Moscoso – Centro

21/12 –
10h00 - Praça Costa Pereira – Centro
12h00 – Calçadão da Rua Sete de Setembro - Centro
14h00 – Praça 8 – Centro

22/12 –
10h - Praça Costa Pereira – Centro
12h00 – Praça 8 – Centro
14h - Praça Getúlio Vargas – Centro

Agradecemos a compreensão e contamos com a cooperação de São Pedro.




sexta-feira, 23 de outubro de 2009













Chegamos ao ponto crucial de toda criação cênica: a hora das escolhas. De escolher o que realmente cabe no espetáculo, o que compõe com a linguagem.

É nesse momento que devemos praticar o desapego, e é tão difícil. Tanta coisa boa produzida, tanta coisa experimentada, tanta coisa que gostamos, que até acreditamos, e tudo e tal.

Mas nos surgem as dúvidas.

Sem elas os espetáculos durariam dias, teria de tudo, contariam todas as histórias de cada personagem, teriam todas as músicas, todas as cenas, todas as coreografias, todos os texto escritos e improvisados. Ainda bem que surgem as dúvidas. Ainda bem que elas surgem a tempo de se encontrar respostas.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

A origem da chuva


O ano era 2006, a pesquisa de linguagem era para o espetáculo Vozes de Ngoma (ngoma = tambor em Banto). Estávamos no interior de Minas Gerais, em Mariana, no ateliê, estúdio, oficina do percursionista Magrão. E no meio de tantas invenções sonoras, tambores de todas as formas, rocas girando ondas do mar, encontramos conchas que tocadas caiam chuva.

O som era lindo e ficou guardado em um lugar qualquer da memória.

“Preciso resolver o problema da chuva da primeira cena”. Dizia Edivan Freitas em todas as nossas conversas sobre o espetáculo.

(O diálogo que segue é baseado em fatos reais)

Edivan - Bater os dedos na palma das mãos!

Nieve - Um clichê.

Edivan - Os atores podem amassar papel celofane!

Nieve - Não vai funcionar na rua.

Edivan - Pau-de-chuva você não quer?

Nieve - Corro de tambor e pau-de-chuva em teatro NA rua.

Edivan - Podemos encher umas latinhas com areia para os atores manipularem.

Nieve - Eles estarão com os objetos de cena, seria impossível fazer tudo ao mesmo tempo.

Edivan - Cloc, cloc. Podem fazer o som com a boca.

Nieve - Vamos tentar!

...

Nieve - Ficou lindo! Mas ainda é pouco, não funciona.

Edivan - E se pendurássemos alguma coisa no guarda-chuva? Eles poderiam fazer o som enquanto seguram os objetos.

Nieve - Conchas! Uma vez eu vi um instrumento de conchas...

...

“Todas as águas vão dar no mar.”
Nossas águas vieram do mar, do mar da minha memória inundada pelas Minas Gerias.



Nieve Matos

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

RELATO DO PROCESSO - VANESSA BIFFON E CLEVERSON GUERRERA

O processo, "toque de caixa", está muito prazeroso. Conhecendo o trabalho de criação/direção de Nieve Matos o grupo vem se solidificando e aprimorando o trabalho com rendimento (muito suor! e dedicação) a cada encontro. De vez em quando a Marivalda aparece (risos), mas o grupo sempre a espanta!

Pessoas tão distintas, artistas mais do que engajados dão o sabor à saga da ilha. Das improvisações mais entusiasmadas - energia pulsante de cada integrante ("vucu vucu") até as escolhas mais serenas.

As descobertas sonoras com a direção de Edivan Freitas também têm sido muito valiosas: a chuva que sai da boca e continua nas conchas, o cortejo brincante de sons, as latinhas e seus timbres... Experimentos! Isso sem falar nas composições inéditas para o espetáculo! A gente, canta, dança e representa! (risos)

Com os tecidos coloridos de apoio surgem as personas e também gestos, figurinos, movimentos, ações do mar...
E não podemos de deixar de lembrar da confecção dos terços, objetos sonoros e religiosos, misteriosos, que no espetáculo ganham várias conotações, da sedução, da riqueza, da fé, do exagero, do peso, do sacrifício, e quais outros mais os olhares puderem dar.

A preparação corporal, por Cleverson Guerrera, sempre cheia de alegria, ludicidade, auxilia os atores a desenharem os movimentos em cena, nas coreografias... Estas dão um tom especial ao teatro de rua, plástico, amplificam a entonação da representação!

Alguns ensaios na rua e ele de novo se mostra: o desafio da troca. Todos têm o que trocar! O que quero dar? Estou disposto a receber?

A saga continua...

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

descobrindo a roda

Às vezes é preciso desconstruir para construir. É claro que essa frase não é minha, mas é o que eu sinto agora em relação ao processo de montagem.

Desconstruir o texto em primeiro lugar. E este só pode ser reconstruído com a colaboração dos atores. Não acredito em uma dramaturgia imóvel, de gabinete. A dramaturgia tem que estar viva, servir ao espetáculo, ao contrário do que faz costumeiramente por essas bandas, o espetáculo servir a dramaturgia.

O corpo do ator deve estar disponível pra isso e os olhos e ouvidos do encenador também.

É como fazer uma rua de paralelepípedo: primeiro temos quebrar a imensa pedra, moldar os retângulos e depois vem a parte mais difícil, encaixar os blocos irregulares lado à lado, construindo o caminho até onde você quer chegar.

Saulo Ribeiro não reconhecerá mais nossa dramaturgia. Graças a Deus!!

Nieve Matos

experimentos

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Sala de ensaio







Se conhecendo, conhecendo o outro, conhecendo o grupo.




sábado, 11 de julho de 2009

Integrantes de Peroás e Caramurus ganham prêmios


O Agrupamento de Artistas, junção de pessoas do projeto Peroás e Caramurus – Uma saga da Ilha, recebeu cinco prêmios em sua participação no 6° Festival de Esquetes do Espírito Santo que movimentou o teatro de Vila Velha no final de junho (2009).

O esquete No início, agora e sempre, com texto e direção de Nieve Matos, recebeu os prêmios de:

Melhor Esquete
Melhor Figurino
Melhor Direção – Nieve Matos
Melhor Ator – Waitair Souza Júnior
Melhor Cenário


Confira tudo em:

Em Movimento

Blog Teatro Capixaba